Fundada em 1937, a União Nacional dos Estudantes (UNE) participou ativamente, não raro na linha de frente, das lutas que marcaram a história do nosso país: a campanha O PETRÓLEO É NOSSO, os CENTROS POPULARES DE CULTURA (CPC), A LUTA CONTRA A DITADURA, A PASSEATA DOS CEM MIL (1968), e tantas outras passeatas país afora. Sem falar na defesa do ENSINO PÚBLICO gratuito e de qualidade, para todos.
A partir do AI-5, editado em dezembro/68, o movimento estudantil sofreu um intenso refluxo, com os principais dirigentes da UNE presos, torturados, exilados, mortos, a exemplo do seu ultimo presidente, Honestino Guimarães.
A volta da UNE
O Congresso de Reconstrução realizou-se no ano de 1979 em Salvador (BA). Mas as lutas já haviam sido retomadas em 1975, ano em que houve greves em São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Brasília, encontros de estudantes e reconstrução dos diretórios centrais de estudantes (DCES) em todo o país. Mas esta retomada não foi tranquila. Apesar de enfraquecida, a repressão respondia com cassetetes, bombas de gás lacrimogêneo, prisões e enquadramentos de estudantes na Lei de Segurança Nacional (LSN).
Em 1975, várias greves acontecem nos estados contra o jubilamento e por melhores condições de ensino, e é realizado o I Encontro Nacional dos Estudantes (ENE).
Em 1976, as greves continuam se ampliando em várias universidades, e ocorre o II ENE, no dia 16 de outubro de 1976, em São Paulo.
Em 1977, várias passeatas nas principais capitais brasileiras sacodem o país. A Universidade de Brasília é ocupada pela polícia e 850 estudantes são presos quando tentam participar do III ENE, em Belo Horizonte. O III ENE termina se realizando na PUC de São Paulo e forma a Comissão Pró-UNE. Em 1978, com representantes de 14 Estados, o IV ENE reúne-se na USP e marca para maio de 1979 o Congresso de Reconstrução da UNE.
1979 teve como destaque a luta pelo Anistia. Grandes passeatas se realizaram nos principais centros urbanos do país, especialmente no Pará, em São Paulo, Salvador , Rio e Recife.
29 de maio de 1979. Dez mil pessoas marcaram presença no Congresso de Reconstrução da UNE, no Centro de Convenções de Salvador, dentre elas 2.304 delegados de 21 Estados e do Distrito Federal, gritando "a UNE somos nós, nossa força e nossa voz". Estava novamente de pé a UNE, que tivera a sua sede queimada após o golpe militar de 1964.
Durante o congresso foram lidas moções enviadas por entidades, sindicatos, organizações populares e por vários presos políticos que ainda pagavam pena por terem defendido liberdade, democracia e melhores dias para o povo brasileiro. Entre estas, a de Edival Nunes Cajá, preso no Esquadrão de Cavalaria, em Recife, sob a acusação de ser dirigente do Partido Comunista Revolucionário (PCR). Cajá, depois de agradecer a todos a campanha em favor de sua libertação, saúda a reorganização da UNE, mostrando sua importância na luta por liberdades democráticas e pela total libertação econômica, política e social do país. E conclui: “…A nossa UNE em reconstrução está regada pelo sangue de Demócrito de Souza Filho, de Alexandre Vannuchi e de tantos outros mártires. Esta UNE será sempre forte; a ela, todo o vigor e todas as energias da nossa juventude”.Foi apresentada também moção conjunta de ex-dirigentes da UNE exilados, entre os quais Luís Travassos, Wladimir Palmeira, Jean Marc Van der Weid e Daniel Aarão Reis.
Eles saudaram o Congresso como “...Uma vitória importante das lutas populares” e propuseram que a UNE reafirmasse sua disposição de luta pela Anistia Ampla Geral e Irrestrita, pelas mais amplas liberdades democráticas e pelo fim do regime ditatorial”.A Plenária final aprovou seis lutas prioritárias:
Contra o ensino pago
Por mais verbas para a Educação
Pela Anistia Ampla Geral e Irrestrita
Contra a Devastação da Amazônia
Por uma Assembléia Nacional Constituite
Por uma campanha de filiação das entidades à UNE.
Lula Falcão (hoje, dirigente do PCR) foi um dos participantes do Congresso de Reconstrução, como integrante da delegação pernambucana, e um dos eleitos para a primeira diretoria de reconstrução da UNE. Falando à imprensa na ocasião, ele afirmou “A reconstrução da UNE vai permitir uma maior unidade dos estudantes e um apoio maior à luta dos trabalhadores brasileiros. Além da luta contra o ensino pago, a UNE vai lutar derrubar esse a ditadura militar imposta ao povo brasileiro em 1964.”
Lutas grandiosas
A seguir, grandiosas lutas se travaram e milhares de estudantes foram às ruas juntos com o povo exigir Anistia Ampla Geral e Irrestrita, embalados pelo Hino composto por Aldir Blanc e João Bosco que cantava “…Meu Brasil, que sonha com a volta do irmão do Henril, de tanta gente que partiu….sob o choro de marias e clarisses”. Conquistada a Anistia, continuaram nas ruas reivindicando Eleições Diretas (Diretas Já!) e Assembléia Constituinte. Foi um período memorável imortalizado na voz de Milton Nascimento, que festejou: “…Renova-se a Esperança, nova aurora a cada dia, e há que se cuidar do broto pra que a vida nos dê flor e fruto”.
E a primeira eleição direta pós-ditadura quase leva um operário ao poder. Por poucos votos, frutos de marketing enganador e de manobras midiáticas, Collor de Melo derrotou Lula da Silva, símbolo das lutas operárias que, a partir de São Bernardo do Campo, empolgaram o país, anunciaram um sindicalismo classista e de luta, e ajudaram a por uma pá de cal no regime militar.
Mas, revelada a corrupção que grassava no seio do Poder Executivo, a UNE voltou às ruas, de caras-pintadas para pedir o impeachment do representante mais cínico das elites brasileiras, que prometera ser o caçador de corruptos e de pôr fim à era dos marajás no serviço público.
Muitos passos atrás
Daí em diante, entretanto, passou a valer o lamento pessimista de Belchior “Como Nossos Pais”: “...Faz tempo, muito tempo, que eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida…” . Sob uma direção reformista, atrelada aos governos, dependente de verbas públicas, a UNE se burocratizou e traiu a sua história ao entregar seu acervo a um escancarado inimigo do povo brasileiro, as Organizações Globo (família Marinho), de imensa folha de serviços prestada às classes dominantes, à ditadura, a tudo de ruim que se registra na História recente de nossa pátria. “Nas paredes da memória, esse é o quadro que dói mais”.
Desafio
Não, isso não pode perdurar para sempre. A esperança sempre se renova. É preciso retomar a linha do tempo e recolocar a UNE na trilha histórica e dentro da locomotiva da luta em defesa do Brasil e do seu povo.
Este é o desafio que se coloca para os universitários brasileiros. Voltar às ruas e retomar as lutas da gloriosa União Nacional dos Estudantes contra a privatização do ensino, por mais vagas nas universidades públicas, em defesa da soberania nacional e pelo socialismo.
Zé Levino, historiador
Hino da UNE
Composição: Vinicius de Moraes / Carlos Lyra
União Nacional dos Estudantes
Mocidade brasileira
Nosso hino é nossa bandeira
De pé a jovem guarda
A classe estudantil
Sempre na vanguarda
Trabalha pelo Brasil
A nossa mensagem de coragem
É que traz um canto de esperança
Num Brasil em paz
A UNE reúne futuro e tradição
A UNE, a UNE, a UNE é união
A UNE, a UNE, a UNE somos nós
A UNE, a UNE, a UNE é nossa voz
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